Aos 21 anos, Ozilda Heloísa Geiser da Silva encontrou na construção civil a chance de escrever uma nova história de vida e seguir em frente. No trabalho, iniciado quando ainda cumpria pena em regime aberto, ela descobriu o caminho para ressocialização, superando preconceitos enfrentados por quem um dia esteve em meio às grades de uma prisão. A oportunidade foi gerada graças a uma parceria firmada entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a MRV Engenharia, que tem proporcionado a mulheres em situação de prisão aprendizado de técnicas e habilidades nesse importante segmento profissional.
Hoje em liberdade, Ozilda conquistou carteira assinada e atua como auxiliar de almoxarifado, resultado de seus dois anos de dedicação à empresa, trabalhando como auxiliar de limpeza, servente de pedreiro e auxiliar do almoxarifado. “Só com o trabalho consegui me encaixar na sociedade, conquistei meu primeiro serviço registrado, graças à uma chance que recebi cumprindo pena. Me identifiquei muito com esse ramo e pretendo me especializar na área de elétrica e hidráulica”, comemora.
A ex-detenta, que atualmente está com 23 anos, reconhece que os frutos colhidos são resultados de suas próprias escolhas, somado às oportunidades geradas pelo tratamento penal oferecido pela Agepen. “Se você mostrar dedicação, a empresa te valoriza ainda mais e era o que eu realmente queria, seguir minha vida de uma maneira diferente e mais digna”, revela Ozilda, que cumpriu três anos em regime fechado e conseguiu concluir o Ensino Médio na unidade penal.
Atualmente o convênio com a MRV Engenharia utiliza a mão de obra de sete reeducandas em regimes semiaberto e aberto. Essa é uma das cerca de 180 parcerias firmadas pela agência penitenciária para a ocupação prisional, que fazem de Mato Grosso do Sul referência nacional no assunto, como um dos estados com o maior índice percentual de presos trabalhando, de acordo com dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
As ações que oportunizam ocupação produtiva aos reeducandos de Mato Grosso do Sul são coordenadas pela Diretoria de Assistência Penitenciária, por meio da Divisão de Trabalho Prisional.
O diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, ressalta que o trabalho tem sido uma importante ferramenta de reinserção social, garantindo mais dignidade e qualificação profissional a homens e mulheres em situação prisão.
“Não medimos esforços para ampliarmos o número de parcerias, o que reflete em benefícios a toda sociedade, já que reduz o índice de reincidência criminal”, finaliza o dirigente.
Parceria de Sucesso
Conforme o engenheiro da MRV, Leonan Rodrigues Silva, a utilização do trabalho prisional tem sido muito válida. “Primeiramente buscamos por conta dos benefícios trabalhistas e por escassez no mercado de trabalho local, mas acabamos encontrando muitos profissionais bons através da parceria com a Agepen”, destaca.
Leonan conta que já foram mais de 15 trabalhadores contratados após o cumprimento de pena. Dentre os serviços desempenhados estão serventes de pedreiro, ajudantes, limpeza em geral, manutenção, aplicação de rejuntes, manutenção na pintura, acabamentos e finalização da obra. “Não exigimos qualificação, exigimos apenas o interesse em aprender e trabalhar”, complementa o engenheiro.
É o caso da reeducanda Rosilene da Silva Floriano, que cumpre pena no regime semiaberto. “O trabalho tem representado força para mim, estou pegando muito no serviço para me levantar. Estou aprendendo muita coisa e tem garantido o sustento dos meus três filhos e um neto também”, revela.
E foi, ainda, no regime fechado que Rosilene iniciou sua dedicação aos estudos e trabalho, já concluiu o ensino fundamental e realizou diversos cursos na área de beleza, informática, culinária e artesanatos. “Na minha opinião não existe nenhum serviço difícil, o negócio é ter força de vontade para aprender e isso tenho bastante”, conta a interna, que ainda sonha em se formar em Estética.
Trabalhando há mais de um ano pelo convênio, a reeducanda atua na parte do rejunte e da limpeza em geral. “Estou começando do zero minha vida, após seis anos longe dos meus filhos, hoje quero reconquistar tudo que eu perdi”, desabafa Rosilene.
As reeducandos recebem um salário mínimo e a remição de um dia de pena a cada três de serviços prestados, no caso do regime semiaberto, conforme estabelece a legislação.
De acordo com a chefe da Divisão de Trabalho Prisional da Agepen, Elaine Cecci, atualmente mais de 36% de toda a massa carcerária do Estado exerce algum tipo de ocupação produtiva, representando mais de 7,3 mil homens e mulheres em situação de prisão. “O trabalho possibilita ao apenado o pleno exercício da cidadania, garantindo profissionalização e sustento digno de sua família. A MRV Engenharia é uma empresa modelo, que cumpre fielmente suas obrigações relativas às normas de segurança no trabalho, preparando, de fato, as custodiadas para enfrentar a rotina de trabalho em liberdade”, finaliza.
Texto e fotos: Tatyane Santinoni.
Edição: Keila Oliveira.